
A literatura médica descreve efeitos benéficos do consumo moderado de café em diferentes sistemas do nosso corpo. Reduz o risco de diabetes, doenças cardiovasculares, alguns tipos de câncer e doenças neuropsiquiátricas como depressão, Alzheimer e Parkinson. As restrições ao seu consumo são poucas e podemos falar das pessoas que têm intolerância gástrica ao café, gestantes que devem evitá-lo e indivíduos com osteoporose que podem ser prejudicados com seu consumo em excesso. Além disso, o café deve ser evitado após certa hora do período vespertino para não provocar insônia.
- Leia também: Crianças e adolescentes têm menos dor de cabeça quando mente e corpo estão em equilíbrio
- Leia também: Você gostaria de saber qual o seu risco de desenvolver a Doença de Alzheimer?
Mas como o café exerce esse seu poder estimulante? A cafeína é a grande responsável por esse efeito ao se ligar a receptores de adenosina do cérebro que promovem uma inibição da atividade cerebral – adenosina é um neurotransmissor inibitório. A cafeína tem uma ação inibitória nesses receptores fazendo uma inibição de um sistema que é inibitório. Por isso o efeito final é estimulante. Quando reduzimos o efeito do freio de mão, o carro anda mais. Assim age a cafeína. Quando acordados ficamos mais despertos, mas como fica o sono sob a influência da cafeína?
O entendimento da cafeína sobre o sono teve um grande salto há cerca de um mês após uma análise dos ritmos cerebrais no eletroencefalograma com a assistência de inteligência artificial e conduzida por pesquisadores da Universidade Montreal no Canadá. A cafeína torna os sinais cerebrais otimizados para o processamento de informações e tomada de decisões mesmo durante o sono. É um estado ótimo durante o dia, mas esse padrão semiacordado e reativo pode interferir com o poder reparador do sono.
A cafeína inibiu o contingente de ondas lentas do sono, ondas que estão associadas ao sono profundo e restaurador. Aumentou, por outro lado, o contingente de atividade beta no sono, atividade que é caraterística do estado de vigília. Esses efeitos são mais intensos entre indivíduos mais jovens, explicado por uma maior concentração de receptores de adenosina na juventude. O estudo foi publicado pela Nature Communications Biology.
*Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp e neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília