
Para muitos casais, foi pela convivência no meio profissional que veio a decisão pelo início de um namoro. Esse é o caso do casal Stella Avelino, 29 anos, e Patrick de Carvalho, 33, que completa oito anos junto este ano. Ambos professores da rede particular, eles se conheceram por meio de grupos virtuais de amigos e se encontraram quando faziam faculdade na Universidade de Brasília (UnB).
Nos últimos semestres de graduação, trabalharam juntos em um cursinho de pré-vestibular, ocasião em que aram a se ver e conversar com mais frequência e começaram a namorar. "Vimos que deu tão certo, que sempre nos organizamos para ficar na mesma escola", conta Stella, que hoje leciona língua portuguesa em um colégio ao lado do marido, que dá aulas de filosofia.
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Segundo levantamento feito pela Sociedade para Gestão de Recursos Humanos (SHRM, da sigla em inglês) com trabalhadores norte-americanos, 80% dos entrevistados já estiveram ou estão em um relacionamento com companheiros de profissão. Outros dados mostram que quase metade dos funcionários demonstraram interesse amoroso por alguém no trabalho e que 21% deles tiveram um encontro com colegas em 2023, ano anterior à pesquisa.
No Brasil, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) não adota regras específicas quanto a relacionamentos amorosos no trabalho, ficando o posicionamento a cargo das empresas. Para a advogada de compliance Késsya Curvo, esses vínculos não devem ser proibidos, mas é importante que as companhias adotem políticas internas claras, comunicação segura e ível para dúvidas e conflitos, prezando pela confidencialidade e dignidade dos envolvidos. "É preciso responsabilidade e cautela; as empresas devem estar preparadas para lidar com esse tipo de situação de forma ética e transparente", afirma.
Benefícios
De acordo com a pesquisa da SHRM, 74% das pessoas que tiveram um relacionamento amoroso no contexto profissional disseram que a relação valeu a pena. Entre os benefícios, destacam-se a motivação, sentimento de pertencimento, compromisso com a empresa e estabilidade entre colaboradores.
Para o casal Stella e Patrick, trabalhar no mesmo local é positivo não só em termos práticos, pelo alinhamento do trajeto para a escola e pelos horários, mas também pela convivência e troca de experiências. "A pausa do café, os breves encontros nos corredores e os trabalhos interdisciplinares fortalecem a dinâmica de partilha, tanto nos momentos de entusiasmo quanto nos de pressão e desafios, o que traz leveza e aconchego para a rotina intensa do dia a dia", compartilha Stella. Além disso, a professora relata que há mais compreensão quando um dos dois leva trabalho para casa, por exemplo, ou quando precisam da ajuda um do outro.
Riscos
Apesar dos benefícios, a advogada Késsya Curvo alerta para problemas que podem surgir quando o relacionamento afeta a dinâmica profissional, com favorecimentos indevidos, omissões de informação para proteger o parceiro, conflitos de interesse, ciúmes entre colegas e quebra da confidencialidade.
Segundo a especialista, os riscos podem se intensificar quando as empresas não assumem direcionamento claro sobre o fato. "A situação pode se complicar quando os envolvidos trabalham na mesma área ou têm uma relação de subordinação. A ausência de políticas preventivas pode comprometer a confiança no ambiente organizacional", aponta.
Cuidados
No colégio onde Stella e Patrick trabalham, existem algumas orientações. "Além de manter uma relação profissional no ambiente de trabalho, a empresa busca evitar a relação funcional de subordinação hierárquica entre casais, a fim de evitar conflitos de interesse", explica a professora Stella.
Com isso, Késsya também aconselha aos casais que evitem demonstrações públicas de afeto no trabalho, não deixem que o relacionamento interfira na tomada de decisões e na relação com outros colegas. Para as empresas, ela reafirma a importância de políticas que deem liberdade para a criação de vínculos afetivos, mas que estabeleçam meios para prevenção de conflitos e garantia da isonomia em avaliações e promoções. "O casal deve ter maturidade para separar vida pessoal e profissional, e as companhias devem ter fluxos claros e bem definidos, o que ajuda a proteger os envolvidos e a própria organização", destaca.
* Estagiária sob a supervisão de Ana Sá
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