
Contar a história de Assis Chateaubriand por meio de um teatro musical faz jus à trajetória de um dos pioneiros da radiofonia no Brasil. Para além de fundador da Rádio Tupi, um marco na história brasileira, Chatô foi responsável pela projeção de alguns dos principais nomes da música nacional. Em uma verdadeira viagem no tempo, o espetáculo Chatô e os Diários Associados — 100 anos de paixão volta para as décadas adas e relembra o início da carreira de nomes como Carmem Miranda e Dorival Caymmi. Em Brasília, a peça é apresentada nesta quarta-feira, no Ulysses Guimarães, com sessões às 16h e às 20h.
"Grande festa brasileira", é assim que o diretor musical Thalyson Rodrigues descreve a trilha sonora da peça. De Ademilde Fonseca, Jamelão e Lolita Rodrigues a Caetano Veloso, Gal Costa e Ivan Lins, a história da música nacional é contada na peça por meio dos encontros dos artistas com a figura do jornalista paraibano. "Foi ele quem levou esses nomes para a rádio", afirma Thalyson.
"Chatô foi um grande mecenas da música", opina o diretor. "Ele virou empresário dos cantores e investiu neles dinheiro do próprio bolso. A música não só conta a história dele, como também é um panorama de toda essa trajetória", acrescenta. Para o roteirista Edu Bakr, a época narrada no espetáculo foi muito proveitosa da cultura brasileira. "Foi uma era em que as pessoas eram todas importantíssimas para a construção da nossa identidade", diz.
"O Chatô não só foi uma personalidade que ajudou a construir esse aspecto do nosso país, como também foi um agente cultural. Ele trouxe inovação e novos recursos. É um personagem muito importante na construção da identidade musical brasileira e na identidade cultural do Brasil", declara o diretor musical.
"Os movimentos musicais da época eram muito ricos", lembra Edu. "E, no espetáculo, a gente ainda vai além e mostra a chegada da música estrangeira no país", adianta o roteirista. "Chatô tinha uma inquietude com o ar do tempo. Ele trouxe os músicos brasileiros para a rádio e, não satisfeito, trouxe os internacionais também", aponta Thalyson.
Em uma volta ao período entre os anos 1920 e 1980, o espetáculo é composto por faixas que são coerentes e pertencentes à era em que são citadas, garante Edu. "Assim, o espectador pode entender qual é o tipo de música que se ouvia — se era de protesto, se estava mandando um recado, se era uma briga musical", exemplifica o autor. "Uma hora, a música reforça o que já foi dito, mas em outros momentos, ela serve como panorama", complementa o diretor musical.
Brasileirinho, Amor, amor, Apanhei-te cavaquinho e Eu sonhei que tu estavas tão linda são algumas das composições que fazem parte da trilha sonora. Segundo Thalyson, os espectadores, após a peça, costumam relatar que o espetáculo os remeteu à mãe, à avó ou demais parentes nascidos no início do século 20. "O repertório também entra nesse lugar da memória afetiva da música, além da lembrança política, social e musicológica mesmo", explica.
"O teatro musical tem essa função de falar mais sobre o nosso país, com personagens que fazem e fizeram parte da história do Brasil. O nosso espetáculo é uma aula de história, de comunicação e de música brasileira", finaliza o diretor.
Elenco de solistas
Ao longo das duas horas e 20 minutos de peça, todo o elenco tem o momento de brilhar. "O diretor (Tadeu Aguiar) não queria que ninguém ficasse sem solo no espetáculo", revela Thalyson. "Isso é muito raro, porque, quando a gente pensa no teatro musical, é muito comum ter um núcleo de protagonistas, de atores coadjuvantes e um grupo de coro, que naturalmente não faz apresentação individual", relata o diretor.
"No entanto, por menor que o personagem fosse na história, o diretor quis que tivesse um solo. Isso foi uma coisa muito bonita, porque de certa forma deu um protagonismo para todo o elenco", elogia.
O grande protagonista do espetáculo, porém, fica de fora da parte musical. De acordo com Thalyson, Chatô apenas divide, brevemente, os vocais com Carmem Miranda (a atriz Giselle de Prattes) — juntos no estúdio, os dois cantam um trecho de Alô, alô à capela. "Fiquei muito encantado com o universo musical, e ainda estou, principalmente com o talento dos artistas brasileiros do gênero", destaca o Stepan Nercessian, no papel de Assis Chateaubriand.