Diversão e Arte

A reflexão de Lorde sobre ‘Solar Power’

eto da cantora foi lançado em 2021

A cantora neozelandesa Lorde compartilhou novas reflexões sobre seu terceiro álbum de estúdio, Solar Power, lançado em 2021. Em uma entrevista recente ao podcast “Therapuss”, apresentado por Jake Shane, a artista revelou que, apesar da importância do disco em sua trajetória, ele a fez perceber uma desconexão com sua verdadeira identidade artística.

“Eu amo muito Solar Power e eu realmente precisava fazê-lo. Não teria conseguido chegar ao próximo álbum sem ele”, afirmou. “Mas ele me mostrou algo importante: que você não pode ser ninguém além de quem realmente é.”

Durante a conversa, Lorde — cujo nome verdadeiro é Ella Marija Lani Yelich-O’Connor — contou que a composição do álbum surgiu em um momento de exaustão, logo após a intensa turnê do aclamado Melodrama (2017). “Foi muito louco fazer aquela turnê. Era um ritmo insano, noites seguidas de um show intenso. Depois daquilo, só queria algo mais leve. Solar Power veio desse desejo por tranquilidade.”

Apesar disso, a cantora reconhece que a estética solar e relaxada do disco acabou se distanciando de sua essência. “Desaparecer, ficar toda elástica, me reinventar demais… no fundo, senti que aquilo não era exatamente eu”, confessou.

Em outra entrevista à revista NME, Lorde revelou que o projeto teve como uma de suas inspirações uma viagem à Antártida, feita em 2019. Durante a expedição, ela se envolveu com estudos sobre mudanças climáticas e participou de expedições de helicóptero para observação de baleias. A experiência a fez repensar suas conexões com o mundo e consigo mesma.

“Foi como se tudo o que eu conhecia tivesse sido desligado — celular, cultura de celebridades, internet. Nada disso importava ali”, contou. “Depois disso, parei de consumir internet de forma constante. Queria descobrir quem eu era longe da influência do que todo mundo está fazendo.”

Lorde refletiu ainda sobre o efeito de estar inserida em uma comunidade artística e cultural que tende a se mover em bloco. “É fácil ser arrastada por esse redemoinho coletivo. Só agora consigo olhar de fora e entender o que tudo aquilo significava”, concluiu.

‘Virgin’: detalhes sobre o novo álbum da Lorde

Neste verão, Lorde rompe um silêncio musical de quatro anos com o lançamento de Virgin, seu aguardado quarto álbum de estúdio. Com data marcada para 27 de junho, o projeto chegará às plataformas pelas gravadoras Universal Music New Zealand e Republic Records, marcando um novo capítulo na carreira da artista neozelandesa.

Apresentado ao mundo com o single “What Was That”, lançado em 24 de abril, Virgin promete um mergulho transparente e cru na intimidade de Lorde. A faixa, carregada de energia synth-pop e lirismo confessional, ganhou um videoclipe filmado de forma espontânea no Washington Square Park, em Nova York — onde fãs tomaram as ruas até serem dispersados pela polícia, evidenciando o impacto de seu retorno.

Um disco que abandona antigas fórmulas

Diferente dos trabalhos anteriores, Virgin não conta com a presença do produtor Jack Antonoff, parceiro criativo nos álbuns Melodrama (2017) e Solar Power (2021). Desta vez, a produção ficou por conta de nomes como Jim-E Stack, Fabiana Palladino, Andrew Aged, Buddy Ross, Dan Nigro e Dev Hynes (Blood Orange). Stack e Hynes também acompanharão Lorde na turnê Ultrasound, que divulgará o novo álbum.

A estética e o conceito

A capa de Virgin provocou debates e elogios ao exibir uma radiografia pélvica feminina com um DIU visível, adotando tons azulados e um estilo clínico e simbólico. É a primeira vez desde Pure Heroine que a cantora opta por ocultar seu rosto na arte do álbum — uma decisão alinhada à proposta de introspecção e análise corporal que permeia o projeto.

Segundo a própria Lorde, Virgin é “100% escrito com sangue” e foi concebido a partir de um lugar de autorreflexão radical. Em um texto publicado em seu site, ela descreveu a obra como “transparente como água de banho, gelo ou saliva”, enfatizando a busca por clareza emocional, sonora e linguística.

Corpo, identidade e transformação

Durante o processo de criação, Lorde enfrentou questões pessoais profundas. Em entrevista ao Document Journal, ela revelou ter lidado com transtornos alimentares e uma relação conflituosa com seu corpo, que influenciaram diretamente o conteúdo do álbum. “Este disco é resultado de um trabalho contínuo para habitar plenamente meu corpo e reconhecer meu poder”, afirmou.

O trabalho também aborda temas de gênero com franqueza inédita. Em conversas com a Rolling Stone, a artista discutiu sua fluidez de identidade, revelando que faixas como “Man of the Year” e a abertura do álbum exploram essas vivências. “Sou uma mulher, exceto nos dias em que sou homem”, declarou, destacando a complexidade da questão.

Letra sem filtro e som corporal

Virgin promete letras cortantes e imagens corporais explícitas, que desafiam limites e confortos. A artista contou à Rolling Stone que quis capturar a “natureza grotesca e gloriosa” do corpo, incluindo versos como “você provou minha calcinha” — uma honestidade desconcertante que reforça a proposta visceral do projeto.

A sonoridade também reflete esse conceito, com uma abordagem percussiva e rítmica pensada para impactar o corpo antes do intelecto. “Desta vez, eu disse a mim mesma: ‘Seja direta. Seja simples. Veja o que acontece’”, contou.

A inspiração inesperada

Uma influência decisiva para a finalização do álbum veio de uma colega de cena pop: Charli XCX. Segundo Lorde, a ousadia de Brat, novo trabalho da britânica, serviu como impulso criativo. “Charli definiu tão bem o conceito de seu disco que me senti desafiada a fazer o mesmo com o meu”, confessou em entrevista à BBC Radio 1.

TB
postado em 06/06/2025 16:21
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