
A descoberta de vírus gigantes que têm papel importante na sobrevivência de organismos marinhos como algas e amebas foi registrada em artigo publicado, no último 21 de abril, em periódico associado à Nature. De acordo com a pesquisa, esses agentes infecciosos, ao chegarem ao ser humano por meio da cadeia alimentar, podem ser responsáveis por riscos à saúde pública.
A partir de métodos de computação de alto desempenho, foram identificados, no estudo, 230 desses novos seres — muitos dos quais os genomas eram até então desconhecidos pela literatura científica. Dentro deles, foram caracterizadas 530 novas proteínas funcionais, das quais nove estão envolvidas em processos como fotossíntese e metabolismo de carbono.
De acordo com a pesquisa, essas funções — tradicionalmente encontradas apenas em organismos celulares, não em acelulares — fazem com que os vírus gigantes sejam capazes de manipular o hospedeiro, geralmente protistas unicelulares, bem como os processos dele, durante a infecção. Assim, até mesmo a forma como os hospedeiros, que são a base de cadeias alimentares em oceanos, se movem no ambiente, usam a própria energia e adquirem comida é modificada pelo invasor.
Embora isso pareça algo essencialmente ruim, é importante também o papel deles, portanto, na “balança” de comida nos oceanos e na forma como nutrientes são reciclados.
No que diz respeito ao ser humano, esses vírus podem ser responsáveis por proliferação de algas nocivas e outros riscos àqueles que vivem próximos a litorais, baías, rios ou lagos, uma vez que podem ser encontrados em diversos cursos d’água por se adaptarem facilmente a diferentes condições.
“Ao compreender melhor a diversidade e o papel dos vírus gigantes no oceano e como eles interagem com algas e outros micróbios oceânicos, podemos prever e possivelmente controlar a proliferação de algas nocivas, que representam riscos à saúde humana na Flórida, bem como em todo o mundo”, disse ao portal de divulgação científica EurekAlert! um dos responsáveis pelo estudo, o professor Mohammad Moniruzzaman.
De acordo com ele, os agentes infecciosos “são frequentemente a principal causa de morte de muitos fitoplânctons, que servem como base da teia alimentar que sustenta os ecossistemas oceânicos e as fontes de alimento”.
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A identificação dos vírus foi possível a partir de novas ferramentas tecnológicas disponíveis no âmbito da bioinformática — projetadas justamente para reconhecer genomas desses seres gigantes em meio a conjuntos de dados públicos de sequenciamento de DNA de amostragem oceânica. Os genomas foram comparados com os de outros vírus gigantes que já eram conhecidos, com o objetivo de encontrar novas funções.
Com a identificação e recriação de “bibliotecas de comunidades microbianas”, portanto, os pesquisadores conseguiram criar estruturas para melhorar ferramentas existentes para detectar novos vírus. Assim, será possível ajudar a monitorar a presença desses seres em cursos d’água utilizados por humanos, a fim de evitar poluição e doenças.